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A ideia de mapear os casos de homofobia em São Paulo surgiu há mais de um ano. O objetivo era tentar indicar os locais de maior incidência dos crimes na cidade e problematizar a questão. A tarefa, no entanto, não era fácil. Como homofobia não é crime, não havia dados oficiais estratificados. A primeira tentativa foi obter as informações com a Secretaria da Segurança Pública, que negou qualquer acesso a boletins de ocorrência. Surgiu, então, a ideia de limitar a busca à única delegacia especializada no combate à intolerância LGBT, a Decradi. Como ela completava 10 anos, havia o gancho de uma década de investigações.

Os delegados responsáveis, entretanto, também não franquearam os dados. O caminho foi pedir, ainda em 2016, via Lei de Acesso à Informação, os BOs referentes a todos os casos motivados por homofobia. O retorno dado: todos os boletins de ocorrência da Decradi (o que incluía casos de discriminação racial, intolerância religiosa, entre outros), mas sem o devido histórico, impossibilitando identificar quais, de fato, tinham a homofobia como pano de fundo. A partir de então, foi feito um trabalho de apuração, que contou com a ajuda de um investigador da Decradi e durou cerca de quatro meses, para mapear todos os casos. Ao fim, foram identificados 393 boletins de ocorrência e 465 vítimas na capital em 10 anos de existência da delegacia.

A planilha foi feita, tratada e colocada no Carto para uma visualização mais eficiente. Além de fazer um mapa (em que é possível ver os locais de maior concentração de casos, saber os crimes mais recorrentes e conhecer o perfil completo das vítimas), o objetivo era contar histórias. Para tanto, com o gancho da Parada Gay, foram ouvidas duas vítimas do caso mais emblemático registrado na Decradi no período, o da bomba atirada durante o evento de 2009, que deixou mais de dez feridos. Só as duas toparam falar. Além disso, para dar voz à luta trans, uma outra personagem foi procurada para contar sua trajetória e enriquecer o material. Com o acesso a parte dos BOs, também foi possível traçar um panorama do tipo de humilhação a que está sujeito o público LGBT, com um vídeo impactante marcado por frases retiradas dos registros policiais.

Houve um cuidado para mostrar a importância da identidade com os termos utilizados, uma preocupação em retratar uma cronologia recente de casos violentos e uma necessidade de indicar à população canais de denúncia, atendimento e orientação. No fim, o material foi editado para dar conta de todos esses aspectos e ganhou relevância.

Categoria Produção Jornalística em Multimídia
Ano do prêmio: 2017
Autor(es): Rodrigo Cunha, Thiago Reis, Fabíola Glenia, Marcelo Brandt, Kleber Tomaz, Igor Estrella, Beatriz Souza, Mariana Mendicelli, Glauco Araújo, Alexandre Mauro, Rogério Banquieri, Wagner Santos, Sávio Ladeira
Título: O mapa da homofobia em SP
Veículo: G1 (1) / Globo.com / São Paulo