Sobre esta Edição 2022

“Sem jornalismo profissional não há Democracia”

Cerimônia da 44ª edição do Prêmio Vladimir Herzog ressaltou valores éticos da profissãoe o compromisso do jornalismo com ascausas democráticas. Premiação, dia 25 de outubro, no Tucarena, foi precedida da tradicional Roda de Conversa com os Ganhadores.

A cerimônia de entrega do 44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos aconteceu na noite do 25 de outubro, no Tucarena (PUC-SP) e foi conduzido pelo jornalista Juca Kfouri.

O evento foi antecedido da 11ª Roda de Conversa com os Ganhadores - iniciativa pela qual jornalistas premiados podem compartilhar os bastidores e o processo de construção das matérias com o público. O bate-papo foi mediado pelos jornalistas Angelina Nunes, Sergio Gomes e Aldo Quiroga, com transmissão ao vivo pela TV PUC e Canal Universitário de São Paulo – CNU.

Neste ano foram inscritos 528 trabalhos que competiram em sete categorias: Arte (ilustrações, charges, cartuns, caricaturas e quadrinhos), Fotografia, Áudio, Vídeo,Texto, Multimídia e Livro-reportagem.

Confira aqui as produções premiadas

Premiações especiais

Fundada em 2013 pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, a Agência Amazônia Real tem escrito sua trajetória com pautas em defesa das causas amazônicas. Considerada a maior porta-voz dos acontecimentos na região, a Comissão Organizadora do 44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos homenageou essas duas valorosas mulheres empreendedoras com o Prêmio Vladimir Herzog Especial.

“Estamos há quase dez anos à frente da Amazônia Real, administrando essa agência independente e investigativa que é sem fins lucrativos. Não recebemos recursos públicos justamente para manter essa liberdade de expressão que a gente tanto busca, logicamente com ética, com um jornalismo de qualidade, respeitando principalmente os profissionais que trabalham com a gente”, declara Kátia, cearense de nascimento, carioca de formação e amazonense de coração.

“Esse prêmio vem para abraçar a gente como fundadoras da Amazônia Real e toda nossa equipe de jornalistas e editores que trabalham com afinco e valorizam as pessoas. Valorizam principalmente essa região tão importante para o mundo inteiro como a Amazônia, e os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, mulheres e as crianças”, afirma a jornalista.

“Vivemos na Amazônia, sobretudo neste momento, uma grande destruição ecológica e humana. Isso acontece em troca de alcançar um ‘desenvolvimento’ baseado no modelo econômico neocolonial que se mantém até hoje. Um ideal de desenvolvimento que aprofunda as desigualdades, exclui vários grupos sociais, como os povos tradicionais e indígenas, e causa violação dos direitos, violências e assassinatos, por exemplo”, conta Elaíze Farias, cofundadora da Amazônia Real, pioneira em jornalismo independente e investigativo na região Norte. Tornou-se referência em grandes históricas na Amazônia, envolvendo conflitos sociais, invasões territoriais, exploração madeireira, entre outras pautas, e tem inspirado outras iniciativas tanto na região amazônico quanto na mídia nacional.

Drauzio Varella foi homenageado pela trajetória de sua vida pública. Médico oncologista, escritor e comunicador, ele foi um dos pioneiros no tratamento do HIV/Aids no Brasil. Em Estação Carandiru, lançado em 1999 e transformado em filme em 2003, por Hector Babenco, o livro recebeu o Prêmio Jabuti 2000 de livro do ano e, desde então, já vendeu centenas de milhares de exemplares.Nesta obra, ele nos ajuda a observar a lógica do sistema prisional brasileiro e os muitos desafios envolvidos na construção de políticas para a população privada de liberdade.

O ano de 2022 marca os 30 anos do Massacre Carandiru - o assassinato de 111 detentos por 74 policiais militares no Pavilhão 9 da Casa de Detenção, na zona norte da capital paulista, em 2 de outubro de 1992 – momento de incontestável violação dos Direitos Humanos. Par e passo, está em tramitação na Câmara dos Deputados projeto de lei (PL 2821/21), já aprovado pela Comissão de Segurança Pública, que anistia os policiais envolvidos na chacina. O PL ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e pelo Plenário da Câmara.

“A consequência mais importante do Massacre foi o aparecimento do PCC (Primeiro Comando da Capital). Está no estatuto do PCC que uma das funções da criação do comando foi vingar o massacre do Carandiru. Quando aconteceu o massacre, o Estado perdeu o controle dos presídios”, explica Drauzio Varella em vídeo publicado em seu canal do YouTube. No sistema penitenciário brasileiro, castigar o detento se sobrepõe ao dever de recuperá-lo e integrá-lo à sociedade. Celas superlotadas e violência por parte dos agentes do Estado ainda são rotina dentro dos presídios. Não mudou após o Massacre.

Drauzio furou a bolha do mundo acadêmico e chegou ao grande público traduzindo conceitos complexos da medicina e da saúde pública. A facilidade do médico para trabalhar com ações de mobilização e comunicação começou em meados dos anos 1980, com campanhas que visavam ao esclarecimento da população sobre a prevenção à aids em rádios como Jovem Pan AM e 89 FM. Participou de séries sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico, da Rede Globo. Outro trabalho de divulgação conhecido pelos brasileiros é a série televisiva “Brasil sem cigarro”, dedicada à luta contra o tabagismo no país. Atualmente alerta a população, principalmente aos jovens, sobre o perigo dos cigarros eletrônicos para a saúde. Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, fez aparições periódicas nos canais televisivos, em colunas de periódicos e por meio de suas redes sociais para explicar à população sobre o vírus e formas de se prevenir.

Pela memória de Dom Phillips

Alessandra Sampaio, companheira de Dom, recebeu o troféu especial das mãos de Júlia Neiva, Coordenadora de Desenvolvimento e Direitos Socioambientais da Conectas. Honrar a vida profissional e pessoal de Dom passou a ser compromisso público dos que atuam com Direitos Humanos. Foto: Alice Vergueiro | PVH.

Pela importante trajetória de Dom Philips no jornalismo em defesa do meio ambiente, na preservação da floresta amazônica e de seus povos, a homenagem in memoriam sela compromisso público e posição de vigilância das entidades que integram a Comissão Organizadora do Prêmio Herzog diante dos ataques cada vez mais frequentes à democracia, aos direitos humanos e aos jornalistas e ambientalistas propagados em território brasileiro. O jornalista britânico tinha 57 anos, vivia no Brasil há 15 e colaborava com alguns dos principais jornais do mundo como Washington Post, Financial Times e The Guardian, com o qual vinha contribuindo de forma regular até recentemente.

Ele e seu colega Bruno Pereira, de 41 anos, que trabalhou durante muito tempo na Funai como respeitado especialista em comunidades indígenas, foram vistos pela última vez em 5 de junho em viagem de barco à comunidade de São Rafael, Atalaia do Norte, fronteira do estado do Amazonas com o Peru. À época, Dom pesquisava a região para um livro que iria publicar sobre a Amazônia.

A interrupção abrupta da vida e do trabalho de Dom não pode arrefecer a cobertura jornalística do que acontece com o meio ambiente no Brasil. Sua luta foi importante e mostra-se vital para o futuro do planeta.O Brasil e o mundo aguardam o desenrolar da investigação.

Contribuição ao Jornalismo

O Prêmio Contribuição ao Jornalismo foi dedicadoaos trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) pela resistência na defesa da comunicação pública. Foto: Alice Vergueiro | PVH.

Em caráter excepcional, os organizadores do Prêmio Herzog também ofereceram uma homenagem aos profissionais que fazem e defendem a comunicação pública no Brasil. O Prêmio Especial Vladimir Herzog de Contribuição ao Jornalismo foi dedicadoaos trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) pela resistência na defesa da comunicação pública.

Desde a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em 2007, osprofissionais dos seus vários veículos figuravam entre os destaques do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Isso mudou nos últimos anospois as seguidas intervenções autoritárias realizadas na empresa pela atual direção tentam acabar com qualquer autonomia do trabalho jornalístico.

Fruto de um amplo movimento da sociedade brasileira, o estatuto de criação da EBC previu instrumentos de participação e de controle social para favorecer a pluralidade e a independência de seus meios de informação. Porém, a partir do Golpe de 2016 que depôs a presidenta Dilma Roussef, passou a ser sufocada pelos governos Temer e Bolsonaro, que foram transformando seus veículos informativos em instrumentos de propaganda, sem espaço para o contraditório e para a diversidade. A censura interna atinge diretamente os temas relacionados a direitos humanos, como as agressões aos indígenas, os conflitos no campo, o agravamento da fome, as heranças institucionais da ditadura militar e qualquer outro assunto que exija explicações do governo federal.

Neste cenário difícil, os profissionais da EBC seguem resistindo, denunciando as irregularidades e apoiado iniciativas como a Ouvidoria Cidadã da EBC e a Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública.

Prevista na Constituição, e consolidada nas maiores democracias do mundo, a comunicação pública é um instrumento essencial para garantir o acesso à informação e a representação de toda diversidade cultural e social do povo brasileiro. Ao conceder esta homenagem, nossa Comissão Organizadora reforça que a EBC tem um importante papel a cumprir para a garantia e a promoção da justiça social e dos direitos democráticos no Brasil.

Sobre a premiação

O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão constituída pelas seguintes instituições: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog (IVH).

Um arco de alianças formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Tuca -Teatro da PUC, TV PUC, Canal Universitário de São Paulo (CNU), União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ atua como grupo de parceiros realizadores desta 44º edição.

Vale lembrar que em novembro de 2022 foi constituído o INSTITUTO PRÊMIO VLADIMIR HERZOG, associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou político-partidários, com sede em São Paulo, que passa a assumir a organização, promoção e realização do Prêmio Vladimir Herzog, além de incentivar, promover e divulgar seminários, livros, cursos, rodas de conversas, exposições e quaisquer manifestações culturais para a defesa da Democracia, da Cidadania, dos Direitos Humanos, da Liberdade de Imprensa, da Função Social do Jornalismo e da Liberdade de Expressão.

ACOMPANHE O CAMINHO DO PRÊMIO EM 2022:

44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos | 2022

Sessão pública de julgamento e divulgação dos vencedores

13 de outubro, das 14h às 17h, no Espaço Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de SP. Confira pelo Canal do YouTube do Prêmio

11ª Roda de Conversa com os Ganhadores

25 de outubro, das 14h às 17h, no Tucarena, com transmissão ao vivo Confira pela pela TV PUC e Canal Universitário de São Paulo – CNU.

Solenidade de premiação

25 de outubro de 2022, terça-feira, das 20h às 21h30, no Tucarena Confira pela TV PUC

Texto: Thaís Magalhães-Manhães, com colaboração de Paulo Zocchi e edição final de Ana Luisa Zaniboni Gomes.